Passa o tempo
“Não é isso que espero para mim. Não mais agora e também não no futuro.”
Disse isso com tal convicção, sem gaguejar ou enroscar em uma palavra sequer que, qualquer um que a ouvisse, estaria certo da veracidade do enunciado. Eu não.
Conheço-a muito bem e sei que não é de seu feitio mentir ou tentar ludibriar quem quer que seja, mas sei também que já é dela, talvez mesmo inconscientemente, a incapacidade de se expor completamente quando ainda carrega um sentimento mal ajeitado.
Sabia que todos a consideravam sensata e ponderada e por isso não consegui mostrar-se “em construção”.
Pensava ser impossível dar aos outros pistas de que ela mesma também sofria com indecisões e incoerências. E, nestas suas crises silenciosas, expressava verbalmente, no vazio de sua casa, aquela que acreditava ser a atitude mais racional e a que devesse ser seguida.
Vivia então com pequenos dilemas, em mundos paralelos: a realidade que a racionalidade a mandava seguir, e a outra, guiada pela emoção e a vontade; intransponíveis.
Aos olhos de todos era feliz. E era mesmo, embora comedida e quieta.
Via-se, ela mesma, como tranqüila e equilibrada, mas vez ou outra espantava pensamentos de que, talvez, um mundo mais feliz se descortinasse em meio a um turbilhão de coisas insensatas, desconexas e nonsenses.
Pensando sobre isso, deitou-se outro dia para dormir.
Jogada de costas na cama, ouvia o barulho dos carros passando e de pessoas animadamente conversando no bar da esquina.
Não teve coragem de descer. Nem ousaria. Tampouco lhe veio o sono. Passou a noite em claro e, às 6:30, desmaiou sob o edredom.
Ouviu o despertador e desligou. Decidida.
Mais tarde, o telefone. Soou alto duas, três, dez vezes, até parar. De novo. Não se moveu.
E assim o dia passou.
Pequenos cochilos preguiçosos, os olhos cansados do sono e ansiosos por mais uma soneca.
Por duas vezes foi à cozinha e trouxe frutas e um copo d’água. Não tomou banho, não se preocupou com a roupa; não aguou as plantas; não varreu o chão. Nada fez.
Como se nada tivesse se dado, às 7 da noite se levantou.
Tomou banho, preparou o jantar, saciou-se, limpou as louças e a pia e a roupa do dia seguinte. Dormiu.
Às 6:45 o despertador tocou. Maquinalmente o desligou e se pôs em pé. Junto dele, desligou a idéia de mudar o rumo do que quer que fosse.
No trabalho, a quem lhe interrogava, respondia calmamente: “Não foi nada. Perdeu-se a hora.”
Disse isso com tal convicção, sem gaguejar ou enroscar em uma palavra sequer que, qualquer um que a ouvisse, estaria certo da veracidade do enunciado. Eu não.
Conheço-a muito bem e sei que não é de seu feitio mentir ou tentar ludibriar quem quer que seja, mas sei também que já é dela, talvez mesmo inconscientemente, a incapacidade de se expor completamente quando ainda carrega um sentimento mal ajeitado.
Sabia que todos a consideravam sensata e ponderada e por isso não consegui mostrar-se “em construção”.
Pensava ser impossível dar aos outros pistas de que ela mesma também sofria com indecisões e incoerências. E, nestas suas crises silenciosas, expressava verbalmente, no vazio de sua casa, aquela que acreditava ser a atitude mais racional e a que devesse ser seguida.
Vivia então com pequenos dilemas, em mundos paralelos: a realidade que a racionalidade a mandava seguir, e a outra, guiada pela emoção e a vontade; intransponíveis.
Aos olhos de todos era feliz. E era mesmo, embora comedida e quieta.
Via-se, ela mesma, como tranqüila e equilibrada, mas vez ou outra espantava pensamentos de que, talvez, um mundo mais feliz se descortinasse em meio a um turbilhão de coisas insensatas, desconexas e nonsenses.
Pensando sobre isso, deitou-se outro dia para dormir.
Jogada de costas na cama, ouvia o barulho dos carros passando e de pessoas animadamente conversando no bar da esquina.
Não teve coragem de descer. Nem ousaria. Tampouco lhe veio o sono. Passou a noite em claro e, às 6:30, desmaiou sob o edredom.
Ouviu o despertador e desligou. Decidida.
Mais tarde, o telefone. Soou alto duas, três, dez vezes, até parar. De novo. Não se moveu.
E assim o dia passou.
Pequenos cochilos preguiçosos, os olhos cansados do sono e ansiosos por mais uma soneca.
Por duas vezes foi à cozinha e trouxe frutas e um copo d’água. Não tomou banho, não se preocupou com a roupa; não aguou as plantas; não varreu o chão. Nada fez.
Como se nada tivesse se dado, às 7 da noite se levantou.
Tomou banho, preparou o jantar, saciou-se, limpou as louças e a pia e a roupa do dia seguinte. Dormiu.
Às 6:45 o despertador tocou. Maquinalmente o desligou e se pôs em pé. Junto dele, desligou a idéia de mudar o rumo do que quer que fosse.
No trabalho, a quem lhe interrogava, respondia calmamente: “Não foi nada. Perdeu-se a hora.”